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Pode falar "inhame", mas saiba que quase sempre é taro

Temos inhame plantado na Horta!



Inhame é um alimento pouco consumido entre nós - fato lamentável, uma vez que é muito mais nutritivo do que a batata inglesa. O inhame é rico em carboidratos (amido) e minerais (zinco, cálcio, ferro e fósforo), além de Vitamina B e outros vários componentes que servem de matéria-prima para fármacos. ¹
Sobre a nomeação do inhame e suas comuns associações com o cará, Neide Rigo conta uma história explicativa: 

"Há uma confusão enorme em relação aos nomes [inhame e cará] que começou com Pero Vaz de Caminha chamando nossa mandioca de inhame. Depois, os lusitanos resolveram que o cará, já conhecido pelos tupiniquins como Ka’rá, este sim era o inhame que conheciam das outras colônias. A confusão com a mandioca foi desfeita, mas entre carás, inhames e taiobas ninguém se entende até hoje...  O cará, raiz bojuda, marrom, de polpa branca e granulada, do gênero Dioscorea, é chamado de inhame no Norte e Nordeste do Brasil. No restante do País, inhame é o nome do vegetal conhecido internacionalmente como taro, a Colocasia esculenta, planta da família das aráceas, originária da Índia e da Malásia. Não é fácil mudar o nome popular de um item alimentício, mas em nome do bom entendimento, podemos tentar adotar o taro. E o outro fica sendo cará mesmo ou inhame". ²


Deu para entender? Neide Rigo apresenta que diferentes espécies de diferentes gêneros não seriam confundidas entre si se passássemos a chamar nosso inhame do Sudeste de taro e, o cará, de cará mesmo ou inhame. Se isso será possível, não se sabe. Tá mais para domínio de conhecimento da Linguística. Mas houve uma tentativa de conciliação da linguagem em 2001, o Primeiro Simpósio Nacional sobre as Culturas do Inhame e do Cará, no qual a nomenclatura foi padronizada. Inhame –japonês virou taro e todos os inhames e carás, do gênero Dioscorea, viraram inhame. 
Taro é delicioso e pode ser usado no lugar da batata em nhoques, pães, ensopados, sopas. O ideal é cozinhá-lo no vapor ou no ensopado ou, ainda, assá-lo. Só não vale comer taro/"inhame" cru pois contém muito oxalato de cálcio, que pode machucar a boca como pequenas agulhadas. Basta cozinhar e o efeito desaparece. ³
O taro, diferentemente da batata, dura dias em temperatura ambiente, em local fresco. Esquecido por algum tempo, quase sempre nos brinda com um broto – é só enfiar na terra e regar para receber novos taros.²
Dá pára fazer suco, sorvete, bolo, e polenta com taro/inhame. Seguem algumas receitas:

SUCO DE TARO/"INHAME" 4


Bata inhame cozido, com casca e ainda morno, com leite gelado até chegar na consistência desejada. Pode ser leite de vaca ou leite vegetal. Adicione cubos de gelo e continue a bater. Para aromatizar o suco: adicione banana, morango, cacau, baunilha, macassá, canela, coco... 
Se colocar no congelador e misturar bem, de hora em hora, vira um sorvete cremoso.

BOLO DE TARO/"INHAME"²



Ingredientes

1 ovo
1/2 xícara de açúcar
1 xícara de taro cru ralado fino
2 xícaras de fubá
2 colheres (chá) de fermento
1 colher (chá) de sementes de erva-doce
1 xícara de leite

Preparo
1. Bata o ovo com o açúcar até espumar. Junte os ingredientes restantes e misture bem.

2. Ponha a massa em fôrma de furo no meio untada e polvilhada. Leve para assar em forno médio por cerca de meia hora ou até dourar.

3. Desenforme depois de morno, para comer com manteiga acompanhado de café adoçado com rapadura.


POLENTA COM TARO E CEBOLA DOURADA²

Ingredientes
1 xícara de fubá
4 xícaras de água
1 colher (chá) de sal
1/3 de xícara (80 ml) de azeite ou óleo
3 cebolas roxas médias partidas ao meio, de comprido, e fatiadas bem finas
2 xícaras de cubinhos de taro cozidos (com cerca de 1,5 centímetro)
1 colher (café) de pimenta-do-reino
½ xícara de cebolinha picada
2 colheres (sopa) de polvilho doce (amido de mandioca) diluído em ¼ de xícara (chá) de água
2 pimentas dedo-de-moça sem sementes fatiadas
Preparo                                                                                                                                   1. Numa panela de fundo grosso misture o fubá com a água e o sal e leve ao fogo alto, mexendo sempre só até engrossar. Abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por 40 minutos ou até começar a soltar do fundo da panela. Não precisa ficar mexendo.
2. Enquanto isso, aqueça o azeite numa frigideira funda ou wok e frite a cebola até que fique dourada. Escorra a cebola e reserve.
3. Retire da frigideira o óleo usado (use este óleo perfumado para temperar arroz, por exemplo), deixando lá umas duas colheres (sopa). Coloque na frigideira com óleo os cubinhos de taro cozidos e salteie até começarem a dourar – cuidado para que não cozinhem demais. Desligue o fogo e tempere com a pimenta-do-reino.
4. Separe para a cobertura 4 colheres (sopa) da cebola dourada e 4 de cebolinha picada. Coloque na frigideira junto ao taro a cebola e a cebolinha restantes. Polvilhe um pouco de sal e misture devagar para preservar o formato dos cubos de taro.
5. Para finalizar a polenta, coloque o polvilho diluído e mexa bem até que o branco do amido desapareça.
6. Desligue o fogo e despeje a polenta sobre o taro com pimenta. Misture com delicadeza e despeje tudo dentro de uma forma untada com azeite, quadrada ou redonda, com volume de um litro e meio ou pouco mais, de modo que a mistura fique com uma altura de mais ou menos 4 centímetros. Deixe amornar ou esfriar e desenforme (se quiser, prepare um dia antes de servir, sem a cobertura, e deixe na geladeira).
7. Para a cobertura, misture a cebola e cebolinha reservadas com a pimenta dedo-de-moça e polvilhe um pouco de sal. Espalhe por cima e sirva morna, fria ou gelada, como entrada, aperitivo ou para levar ao piquenique.
REFERÊNCIAS
OKUNLOLA, Adenike; AKINGBALA, Oluwatomi. Characterization and evaluation of acid-modified starch of Dioscorea oppositifolia (Chinese yam) as a binder in chloroquine phosphate tablets. Brazilian Journal Of Pharmaceutical Sciences, [s.l.], v. 49, n. 4, p.699-708, dez. 2013. FapUNIFESP (SciELO).
2 RIGO, Neide. Taro ou Inhame. 2013. Disponível em: <https://come-se.blogspot.com.br/2013/02/taro-ou-inhame-coluna-do-paladar-de.html>. Acesso em: 17 maio 2018.
RIGO, Neide. Cará e Inhame. 2013. Disponível em: <https://come-se.blogspot.com.br/2013/08/cara-e-inhame-coluna-nhac-do-caderno.html>. Acesso em: 17 maio 2018.
RANIERI, Guilherme. Suco de inhame faz mal? 2015. Disponível em: <http://www.matosdecomer.com.br/2015/05/inhame-e-suco-de-inhame-cru-faz-mal.html>. Acesso em: 17 maio 2018.

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